Cirurgia bariátrica em adolescentes: avanço terapêutico ou decisão precoce?
Autor: *Karoline Albini Schast
A obesidade infantojuvenil é uma condição crônica de causas multifatoriais e consequências sérias à saúde física e mental. No Brasil, segundo dados recentes do IBGE, aproximadamente 25% dos adolescentes enfrentam o excesso de peso, sendo que parte significativa já apresenta quadros de obesidade grave. Frente à ineficácia de intervenções clínicas isoladas em muitos desses casos, surge a possibilidade da cirurgia bariátrica como alternativa terapêutica para adolescentes a partir dos 14 anos. Essa medida, no entanto, requer uma análise cuidadosa, tanto pelos potenciais benefícios quanto pelos desafios e riscos envolvidos.
Estudos internacionais apontam que a cirurgia bariátrica pode gerar resultados promissores a longo prazo. Adolescentes que aram pelo procedimento demonstraram redução sustentada do índice de massa corporal (IMC), além de remissão de comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemias. Além das melhoras metabólicas, há também impactos positivos sobre a autoestima, o bem-estar psicológico e a qualidade de vida desses jovens, que muitas vezes enfrentam estigmas sociais e sofrimento emocional intensos devido ao peso.
No entanto, a indicação da cirurgia em adolescentes deve seguir critérios rígidos, considerando fatores físicos e emocionais. O procedimento é, em geral, indicado para indivíduos com IMC acima de 40 kg/m², ou acima de 35 kg/m² com a presença de doenças associadas. A maturidade esquelética é um requisito, normalmente atingida após os 14 anos. Mais do que uma decisão baseada apenas em números, é fundamental uma avaliação integral do adolescente. Isso inclui o histórico clínico, grau de comprometimento com o tratamento, e familiar e estado psicológico.
A cirurgia bariátrica em adolescentes não está isenta de riscos. Além das complicações cirúrgicas imediatas, há grande preocupação com deficiências nutricionais a médio e longo prazo. Carências de ferro, vitamina B12, cálcio e vitamina A são comuns, exigindo suplementação rigorosa e acompanhamento nutricional contínuo. A adesão ao novo padrão alimentar é muitas vezes desafiadora, sobretudo nessa faixa etária marcada por instabilidades comportamentais e emocionais.
Nesse cenário, o papel da equipe multidisciplinar é imprescindível. O nutricionista tem função central, não apenas no preparo pré-operatório e orientação alimentar inicial, mas também no acompanhamento permanente, auxiliando o adolescente a estabelecer uma relação saudável com a alimentação. O apoio psicológico é igualmente essencial, tanto na preparação quanto na adaptação à nova realidade pós-cirúrgica. Famílias envolvidas e bem orientadas tendem a favorecer melhores resultados, pois o ambiente doméstico influencia diretamente os hábitos e a motivação do jovem.
A introdução da cirurgia bariátrica como possibilidade terapêutica para adolescentes representa um avanço, mas exige responsabilidade, critério e estrutura. É um recurso que deve ser utilizado apenas quando todas as outras estratégias clínicas falharam e quando o paciente apresenta condições reais de se comprometer com as mudanças que o procedimento impõe. Não se trata de uma solução mágica, mas de uma ferramenta poderosa que, quando bem indicada e acompanhada, pode transformar vidas.
A ampliação dessa possibilidade terapêutica precisa ser acompanhada por políticas públicas de promoção da saúde, incentivo à educação alimentar e garantia de o ao cuidado interdisciplinar. O sucesso da bariátrica em adolescentes depende menos da técnica cirúrgica e mais do cuidado contínuo e humanizado ao longo do tempo.
*Karoline Albini Schast é nutricionista e chef de cozinha, além de professora do Bacharelado de Nutrição na Uninter
Autor: *Karoline Albini SchastCréditos do Fotógrafo: Pexels