Você viajou no feriadão e ficou irritado com o trânsito lento nas estradas?

Autor: *Nelson Pereira Castanheira

O brasileiro adora um feriadão e, geralmente, aproveita para viajar. Não importa para onde: praia, campo, casa de amigos e parentes, hotel ou até mesmo acampamento. Na maioria das vezes, a viagem é de carro, pois permite ir a locais onde não tem aeroporto e onde um ônibus tornaria a viagem desconfortável e sem mobilidade. Nessas viagens, ouvimos com frequência a frase: vou viajar e aproveitar para descansar. Será? 

No feriadão da Páscoa, emendado com o dia de Tiradentes, fiz essa aventura e me desloquei, de carro, de Curitiba até o município de Nova Prata do Iguaçu, no sudoeste do Paraná, a 89 quilômetros de Santo Antônio do Sudoeste, fronteira com a Argentina. 

A distância percorrida de Curitiba a Nova Prata do Iguaçu foi de 525 quilômetros, numa viagem tranquila que durou exatas sete horas, com uma única parada para abastecer o veículo e fazer um lanche. Mas… tem a volta do feriadão. Os mesmos 525 quilômetros foram percorridos em doze horas e vinte e cinco minutos, o que significa uma média de 42 quilômetros por hora em estradas consideradas boas, na maior parte do trajeto pedagiadas. Devido a essa demora, duas paradas se fizeram necessárias. Por que tanta demora, o que tornou a viagem estressante e cansativa? Alguns importantes fatores precisam ser levados em consideração.  

Primeiro, o grande volume de automóveis e caminhões circulando em nossas estradas, principalmente nessa região do Estado do Paraná que é grande produtor de grãos, de carne de gado e de ovos. Durante um bom trecho da viagem, há a interligação da capital paranaense com a cidade de Foz do Iguaçu, muito visitada em feriados por pessoas do Paraná e do Estado vizinho de Santa Catarina que para lá se deslocam de carro ou de ônibus. 

A quantidade incomum de veículos automotores circulando nas rodovias que interligam esses locais citados tem o agravante de que um percentual muito significativo é de caminhões, muitos deles lentos e que não respeitam a sinalização e circulam na pista da esquerda nos raros trechos em que a rodovia é duplicada. Quando é pista única, aí incluindo o trecho de serra, a lentidão é inevitável.  Não bastasse isso, é comum vermos automóveis ultraando pelo acostamento (quando ele existe…), o que acrescenta ao estresse da viagem demorada uma certa dose de insegurança. 

Mas o que encontramos pelo caminho, além dos veículos mencionados? Encontramos radar, pedágio, mais radar e mais pedágio e nada de policiais de trânsito para orientar e acabar com os abusos cometidos pelos motoristas mais incautos. 

Por que mencionar o pedágio? Ele não garante uma boa estrada, com pistas de rolamento com boa qualidade e com segurança? A resposta é sim, mas em dias de feriadão precisamos lembrar que para cada pedágio a ser pago há uma fila quilométrica a ser enfrentada. Filas que chegam a vinte minutos de espera, aproximadamente, para conseguir pagar a tarifa estipulada. Diz a lenda urbana que, em situações como essa, os contratos com as concessionárias determinam que a concessionária deve liberar a agem dos motoristas sem fazer a cobrançaMas acredite que é só uma lenda urbana. 

Afinal, o que fazer, se você deseja viajar num feriadão? Considerando a situação caótica das rodovias em 2025, como será em 2035 ou em 2045? Alguém está pensando numa solução, o chamado plano B? 

A solução existe, mas depende de vontade política. O leitor que já teve a oportunidade de visitar a Europa e lá alugar um carro sabe do que estou falando. São estradas maravilhosas, com longos trechos em que a velocidade permitida é de 130 quilômetros por hora e a razão disso é uma só e é simples: pouquíssimos caminhões circulando.  

Vem então o questionamento: como levar para a população os insumos necessários ao dia a dia? Como transportar, por exemplo, os alimentos? A resposta também simples: o transporte de carga e, também, de ageiros entre as cidades de um país e entre os países vizinhos é feito de trem. Trens de alta velocidade e de alta qualidade, com preços muito íveis.  

Mas há interesse em se colocar ferrovias em todo o nosso território nacional? Se houver, é só no discurso. 

Teremos outro feriadão em breve. Caso queira viajar, pense bem antes de entrar numa rodovia brasileira. 

*Nelson Pereira Castanheira é Doutor em Engenharia de Produção e Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa na Uninter.

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Autor: *Nelson Pereira Castanheira
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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