Educação a distância: um caminho de superação e democratização do ensino no Brasil

Autor: *Maristela Gripp

Em 2022, um marco histórico foi celebrado na cidade de Afuá, na Ilha de Marajó: a formatura da primeira turma de alunos da Educação a Distância (EaD). Quarenta estudantes, vindos tanto da zona rural quanto da área urbana, concluíram o ensino superior, muitos deles sendo os primeiros em suas famílias a alcançar tal feito. Esse momento não foi apenas uma conquista individual, mas um símbolo de transformação coletiva para uma população que enfrenta desafios sociais, econômicos e geográficos significativos. 

Com cerca de 37 mil habitantes e uma infraestrutura limitada devido à sua condição insular, Afuá representa muitos dos obstáculos encontrados no interior do Brasil quando o assunto é o à educação. Nesse contexto, a EaD surge como uma poderosa ferramenta de inclusão, permitindo que o conhecimento atravesse rios, florestas e distâncias sociais. 

No entanto, em 2025, o cenário da educação a distância no país enfrenta ameaças sérias. Novas diretrizes propostas pelo governo colocam em risco a continuidade e a expansão dessa modalidade, ao ignorarem seu impacto positivo nas regiões menos favorecidas. Essa resistência revela um apego a modelos tradicionais de ensino, historicamente excludentes, que insistem em privilegiar os grandes centros urbanos e camadas sociais mais favorecidas. 

A história da EaD no Brasil é, por si só, uma prova de resiliência e inovação. Desde os cursos por correspondência enviados pelos correios em 1904, ando pelos programas de rádio e televisão educativa, até os avanços digitais das últimas décadas, essa modalidade sempre buscou romper barreiras. O Telecurso, lançado em 1978, é um exemplo emblemático de como a educação pode se reinventar para alcançar milhões de brasileiros, oferecendo uma segunda chance de escolarização a quem foi deixado para trás pelo sistema tradicional. 

A virada do século trouxe ainda mais avanços. Com a criação da SEED pelo MEC em 1995, a EaD ou a ser formalizada e regulada. A década de 2000 consolidou o modelo com universidades credenciadas e cursos reconhecidos, e em 2010, com a popularização da internet, vivenciamos o verdadeiro “boom” da educação online. Plataformas digitais, videoaulas e fóruns de discussão se tornaram comuns, provando que é possível ensinar e aprender com qualidade mesmo à distância. 

Dizer que a EaD não tem valor é fechar os olhos para sua história e seus resultados. É negligenciar as transformações sociais promovidas em comunidades como Afuá. É negar oportunidades a milhares de brasileiros que, por motivos econômicos, geográficos ou pessoais, não conseguem frequentar uma universidade presencial. Mais do que uma alternativa, a EaD é uma necessidade para um país com tantas desigualdades. 

Portanto, é urgente que políticas públicas reconheçam e fortaleçam essa modalidade. Investir na EaD é investir na democratização do conhecimento, na valorização das diversidades regionais e na construção de um Brasil mais justo.

*Maristela Gripp é Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Paraná e professora do Curso de Letras EaD na Uninter

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Autor: *Maristela Gripp


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