O impacto das calçadas na qualidade de vida dos cidadãos
Autor: *Rafaela Aparecida de Almeida
Em Barcelona, 42% dos deslocamentos urbanos são feitos a pé; em Paris, 53%. Já no Brasil, a média é de 22%. O que justifica tamanha diferença no índice de caminhabilidade? Muitas cidades já compreenderam que a qualidade das calçadas e priorização do pedestre, em detrimento dos carros, impacta diretamente na qualidade de vida dos cidadãos.
Curitiba, reconhecida por suas inovações urbanas, avança nesse tema. A cidade tem trabalhado no desenvolvimento de uma nova regulamentação para calçadas, por meio de um processo participativo com moradores, técnicos e especialistas. O resultado inclui uma minuta de decreto, manual ilustrado e caderno técnico, com diretrizes baseadas em ibilidade, segurança e conforto. A proposta visa atualizar os padrões construtivos, considerando que, por lei, a manutenção das calçadas é responsabilidade dos proprietários.
Uma pesquisa com moradores de Curitiba apontou as seis principais queixas: material inadequado, largura insuficiente, normas confusas, falta de ibilidade, ausência de mobiliário urbano e escassez de arborização.
Esses dados mostram que calçadas vão além da ibilidade formal, mas que é preciso garantir espaços seguros, confortáveis e convidativos à permanência. Para isso, diversos aspectos devem ser considerados:
– ibilidade: a ibilidade universal deve ser assegurada, especialmente para pessoas com mobilidade reduzida. Isso exige superfícies regulares, calçadas amplas e sinalização tátil, conforme as normas da NBR ABNT 9050 de 2020.
– Manutenção e tipo de piso: calçadas esburacadas, rachadas ou escorregadias colocam em risco os deslocamentos a pé, especialmente dos mais vulneráveis. Pavimentos antiderrapantes, ausência de trepidação, fixação adequada das pedras, controle de raízes expostas e eliminação de irregularidades que gerem acúmulo de água são medidas essenciais.
– Conectividade: a conectividade das calçadas garante que as pessoas consigam percorrer caminhos completos, sem interrupções ou obstáculos, de forma autônoma e segura. Isso inclui travessias bem-sinalizadas, com tempos adequados, sinalização sonora e luminosa, guias rebaixadas íveis e travessias em mesmo nível, preferencialmente com redução do leito carroçável e alargamento das calçadas.
– Segurança: boa iluminação, presença de outras pessoas circulando e fachadas ativas (com comércios e janelas voltadas para a rua) e permeabilidade visual aumentam a proteção e reduzem a sensação de vulnerabilidade, principalmente à noite.
– Ambientação: as calçadas devem ser acolhedoras. Árvores que ofereçam sombra, bancos para descanso, marquises e toldos, permeabilidade visual do entorno e atrativos como jardins e elementos culturais incentivam a permanência, oferecendo espaços agradáveis aos pedestres.
É preciso destacar que pessoas com mobilidade reduzida são as mais impactadas pela má qualidade ou ausência de calçadas. Cada grupo tem demandas específicas: para cadeirantes e mães com carrinhos, pisos escorregadios, trepidações e inclinações dificultam o trajeto. Deficientes visuais dependem de piso tátil e sinalização sonora. Idosos valorizam sombra, áreas de descanso e segurança nas travessias. Em 2022, o Brasil somava 22,2 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, reforçando a urgência de tornar os espaços urbanos mais íveis.
*Rafaela Aparecida de Almeida é doutora em Gestão Urbana e docente na Uninter.
Autor: *Rafaela Aparecida de AlmeidaCréditos do Fotógrafo: Pixabay